Desde que tem memória, sempre viveu dando aos outros o melhor de si mesmo, sem pedir explicações, simplesmente, dava o que sentia, oferecia-o de mãos abertas vazias de explicações a receber. Talvez desse tanto quanto precisasse, mas nunca deu valor ao que precisava, satisfazia-o fazer alguém feliz, completava-o sentir que a sua vida seria pouco mais que uma gota no oceano, se esse oceano fosse a pessoa a quem os seus sentimentos se entregavam. Nunca soube dar menos do que o que lhe pediam, nunca soube deixar uma lágrima cair sem a sua presença, sem o seu sorriso, o seu carinho, o abraço apertado capaz de salvar um coração.
Hoje encontrei-o na rua da solidão, mesmo ao fundo, sentado no seu banco de jardim, cabeça pousada nas mãos que o tentavam suportar para a vida, corcunda das mágoas que carregava as costas, olhar fixo numa pedra da calçada que lhe parecia diferente das outras. Passei por ele e tentei chegar a fala, mas quando o meu olhar se cruzou com o dele apenas vi os olhos de alguém que conheci e jamais conheço, sem o brilho que tantas vezes lhe vi, sem nada para dar, mas com tanto para receber.
Hoje encontrei-me.