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terça-feira, julho 31

Sem titulo...

 A página em branco, faz-me companhia há mais de duas horas, não me apetece escrever nem tão pouco pensar no que escrever.
 Tentei inspirar-me em imagens, em fotos tuas ou recordações nossas, mas não quero dizer-te o que penso, não me apetece falar do que sinto, simplesmente, não me apetece. O titulo será este mesmo, "sem titulo..." pois não sei que nome dar a algo que estou a pronunciar no silêncio.
 Agora que penso nisto, poderia ter feito um texto sobre ti, talvez falando do teu olhar, do teu sorriso ou do teu jeito de ser, mas ao mesmo tempo concluo que já falei tanto sobre ti, que já te disse o que sinto ou penso e nada mudou. Acho que já não adianta embelezar a tristeza ou tentar afastar a saudade com as palavras, de pouco me servem quando nada fazem, seria o mesmo que a minha paixão por ti, tenho-a e de nada me serve, talvez o facto de me trazer alguma dor nos momentos mais difíceis e em que sinto a tua falta seja mesmo a única coisa que retire desta paixão. Caramba, que contraste mais bizarro, um sentimento tão belo que de beleza pouco me dá.
 "Texto" mais estranho este, talvez lhe coloque uma imagem engraçada para dar um pouco mais de alento, talvez assassine a beleza de uma imagem "nisto". Por que raio uma imagem não pode ser sacrificada a tentar abrilhantar algo que não existe? Afinal eu também sorrio para que não me vejam a alma, também finjo não me preocupar quando por dentro morro lentamente, e alguém se importa com isso? Está decidido, irei sacrificar uma imagem qualquer neste pedaço de nada!
 Tão decidido que eu pareço, quem tiver lido isto, até aqui, deve pensar que estou em algum momento de mudança radical, que esta noite será a noite em que te vou esquecer e seguir em frente, uma nova pessoa surge num corpo já conhecido. Enganam-se, completamente, aqueles que pensam e vêm em mim a superficialidade de uma pessoa, tenho muito mais que aquilo que se vê,mas por favor, se não conseguiram descobrir isso não o tentem fazer agora, até porque dá um ar deselegante a pessoa, torna-se falsa e sem sentido, e como não ligo a essas pessoas nem tão pouco as tenho na minha vida, o melhor mesmo é seguirem tal como estão, admiro-vos assim!
 Voltando a parte onde dizia que parecia estar decidido em esquecer-te e seguir em frente, que deve estar espalhado algures aqui em cima, bem sabes que é mentira, infelizmente para ti, não abandono os sentimentos, cresceram em mim, fazem parte de mim, não os dou para a adopção nem os largo num banco de jardim, simplesmente vivo com eles, esperando que tenham com que se alimentar ou então que morram devagar e sem causar grande dor.
 Bem, este "texto" está assim qualquer coisa de, estranho? Talvez tenha feito o meu auto-retrato com estas palavras, afinal sou apenas mais um com a mania que quer ser diferente dos restantes, mas que todos vêm como um igual.

domingo, julho 29

Uma noite

 Na penumbra da noite dispo o teu corpo, faço de cada pedaço teu o meu recanto, o meu abrigo.
 Pelo teu olhar, percorro o Ser mais belo que algum dia conheci, acaricio, suavemente, o teu rosto de menina e vejo o teu olhar fechar-se pedindo-me o carinho que tanto desejas. As minhas mãos sobem até ao teu cabelo, sentindo-o escapar-me entre os dedos, chamo-te para mim sem interromper o silencio. Os teus lábios doces de sorriso fácil que se aproximam dos meus, desejo-os mais que tudo, anseio por eles de todas as vezes que os tenho junto aos meus. A suavidade com que eles me tocam, cortando-me a respiração do momento.
 De olhos fechados não te consigo ver, sinto apenas a tua textura, o teu corpo de mulher por entre as mãos. Pouco abaixo da cintura, levanto-te a roupa, devagar, deixando-te nua a pele macia e quente da barriga. Deixo a mente, minha e tua, tomarem conta deste instante, que as mãos te percorram o corpo escondido. A cada gesto meu, sinto-te puxar-me para ti, sinto o desejo tomar conta de mim, os lábios unidos pedindo por mais.
 A tua silhueta fina de mulher desperta em mim desejo, paixão, algo mais que o coração apenas conseguiria explicar se pudesse realizar o seu ínfimo desejo, saltar-me do peito e aconchegar-se nas tuas mãos. Os teus seios nus estremecem-me o corpo, no toque leve dos meus dedos que os percorrem, que os envolvem numa concha de ternura. A tua respiração cortante junto ao meu ouvido, a tua língua brinca com a minha orelha enquanto os meus beijos te devoram o pescoço, enquanto o teu corpo se enrosca no meu. As tuas mãos cravam-se na pele das minhas costas como amarras de onde eu jamais fugiria, onde viveria toda a vida, o teu corpo.
 Uma noite, tenho-te por uma noite para desvendar os segredos do teu corpo, ignorando o tempo e fazendo de cada momento a eternidade de que preciso para te amar. O teu olhar, irei encontra-lo deitado ao meu lado quando acordarmos, o teu sorriso de anjo será o convite perfeito para o beijo de bom dia, e o teu corpo o inicio de uma noite.

segunda-feira, julho 16

Sem saber o que vestir

 No monte de roupa usada procura algo para vestir, uma peça que me diga algo, em vão.
 Não sei que usar hoje, não me apetece procurar ou vasculhar neste monte de trapos que me cansa de cada vez que olho, quero mudar, preciso de mudar as roupas que tu vês.
 Talvez leve aquele conjunto que me torna querido e próximo de ti, mas ao mesmo tempo sinto-me apertado dentro dele, cada vez mais apertado. Vou usar uma roupa que me torna sedutor e carinhoso, que me deixe mostrar o melhor de mim, mas ainda ontem usei e não gostaste, talvez deva procurar outra peça. E se usar aquele meu fato de gala, que me faz sentir superior a ti e a todos? Má ideia, nunca me senti maior do que o que sou, bastante inferior a ti.
 Talvez deva ficar em casa, no meu cantinho, sem mostrar quem realmente sou, evito que me olhem de lado e que pensem mal de mim por andar com roupa suja e gasta. No entanto o sol brilha lá fora, consigo-o ver por entre as frinchas da persiana, convida-me para sair, para passear junto ao rio, mas tenho medo de me cruzar contigo, e se não gostas das minhas roupas? E se o perfume que não levo te seja desconhecido?
 Está decidido, vou para a rua de alma nua, sem disfarces ou encantos, na esperança que me vejas e não gostes, não me julgando por ser diferente.

quarta-feira, julho 11

"De-feito" à medida

 Nunca é fácil falar de nós mesmos, quanto mais assumir que temos defeitos como qualquer outro.
 Afinal a minha perfeição é tão igual quanto a tua, soube-o por ti.O facto de vermos o nosso esforço deitado por terra, ao sermos confrontados com pensamentos da pessoa que nos fez lutar, deixa-nos um sabor agridoce na boca. Interrogamos o porquê, onde se falhou, o que poderia ter sido feito de diferente, e chegamos a uma conclusão, afinal somos um humano como tantos outros, com qualidades e defeitos.
 Não tenho por hábito concordar contigo, nem sei se me apetece fazê-lo agora, mas tentarei ser razoável com a tua opinião. E, sem querer, revelo já aqui um dos defeitos que me apontaste, "mau-feitio". Até que ponto pode ser considerado mau-feitio um defeito? Será que importar-me demasiado contigo e ficar triste por não me dizeres nada pode ser considerado mau-feitio? Será que querer o melhor para ti pode ser sinal de possuir mau-feitio? Sim sei que, por teu lado, sou chato e que o melhor que eu quero nem sempre é o melhor que tu desejas, mas há sempre o beneficio da dúvida.
 Tenho consciência de quem sou, sem altar ou aureola, sem tridente pontiagudo ou fato vermelho, sou o que sempre fui contigo e sempre serei, humano errante e com o maior defeito de todos, apaixonar-me, de-feito à medida por ti. Continuando assim seguirei, dando-te os meus defeitos até quereres torna-los em sentimentos teus.

terça-feira, julho 10

Imperfeitamente, perfeita

 Por vezes olho e vejo-te diferente, a rapariga que conheço não está a minha frente, não se revela no corpo que habita. Desconhecida de mim, reconhecida por quem a quer lidar.
 As tuas formas desvanecem-se com a luz do dia, tornam-te sombria e distante, fria e perfeita no teu mundo, nesse mundo de objectivos, de sonhos e risos disfarçados. Por mais que te tente alcançar jamais saberei como o fazer ou conseguir, mesmo que te puxe ou que te toque, suavemente, a tua pele não responde. Como que por magia, o teu olhar torna-se vago, o teu sorriso fica estranho, os teus doces movimentos revelam a superioridade que não te reconheço.
 Talvez seja eu, talvez não te veja da mesma forma como te sinto na noite escura, talvez o poder de arrastares uma sombra que não te pertence. Talvez eu só consiga olhar a tua sombra.
 Repleta de imperfeição, distante de ti, caminhando ao teu lado, essa tua sombra imperfeitamente perfeita da pessoa que julgo ter conhecido.

Douro em socalcos

 Verdes olhos, no reflexo do horizonte já ali, espelhos sem fim da beleza tão simples e natural da paisagem sublime de um Douro em socalcos.
 De rochedos firmes e pedras soltas, campos repletos de um verde que outrora foi castanho, amarelo e inexistente, onde o suor no rosto do homem é o orgulho de uma luta inacabada. Por entre ventos frios e calor abrasador, segue o seu caminho, sereno, sem se dar por ele. A brisa que corre ou morre nas suas entranhas, moldando-o a seu belo prazer, desenhando em si as rugas de uma idade milenar.
 Hoje, verde e repleto da essência que nos corações das suas gentes faz sorrir, esquecendo as amarguras e os desamores vividos repetidamente. A azafama não tarda a chegar, para mais uma etapa que faz de ti único e maravilhoso. Os visitantes que te percorrem, que te tentam conhecer, deixando em ti pouco mais que nada, a não ser a enorme admiração de sentirem a imensidão de um povo e de uma região.
 Leito de sonho e coragem, onde guerreiros marcados pelas suas terras fazem jus ao teu nome, Douro