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domingo, novembro 27

Cocktail de sentimentos

 Um pouco de sentimentos distorcidos pela neblina da realidade, um pouco de carinho sentido, muita saudade e um sorriso, onde que te sirvo esta bebida tóxica.
 Não sei os teus gostos, se és apreciadora de algo que te faça sorrir ou de algo que te faça sentir viva. Desconheço o teu gosto mais secreto, mas sei aquilo que gostas que te diga, aquilo que gostas de ouvir. Por isso, hoje, vou servir-te a tua bebida favorita, repleta de empenho e dedicação da minha parte.
 Num sorriso, que pouco tem de meu, digo-te que estou bem, que me sinto feliz por sorrir contigo, adiciono-lhe um pouco de vontade de te ver sorrir, quando o que quero é conhecer o desconhecido de ti. Nesta minha figura, de onde tu podes escolher o que queres beber, ofereço-te o que não tenho, fingindo ser tudo o que tenho para ti. Tu deliciaste com as minhas pequenas misturas e poções de nada, tão bem enfeitadas quanto os sentimentos que não te mostro. Do meu sorriso, bebes o que queres ter e aquilo que não reconheço pelo seu nome ou sabor, aprecias cada trago como se fossem verdadeiros em nós.
 Este cocktail de sentimentos, é o pouco do todo que desconheces em mim, é a minha capacidade estúpida de te oferecer o que queres e o que não sou. Se pudesse dar nome a esta bebida seria "Ilusão", pelo poder mágico que ela tem em fazer rir quem a bebe, mesmo que quem a sirva saiba que apenas lhe adicionou um pouco de sentimentos não sentidos. No entanto, recomendo outro cocktail para ti minha querida, algo mais arrojado, algo que não te faça sorrir, algo que te trará de volta a realidade, seria algo banal e fútil, contudo, com a sinceridade da pessoa que sou, com a sinceridade do que sinto, de certo saberás o nome desta bebida.
 Se me voltares a perguntar se estou bem, senta-te ao meu lado e bebe do meu copo, talvez percebas onde me encontrar.

quinta-feira, novembro 3

As voltas do mundo

 O mundo dá voltas e voltas, sem vermos a volta que ele nos dá.
 Sem dares conta o mundo gira, à tua volta, à volta de todos que te rodeiam, e sem ver o seu passo apressado, muda o mundo. A pegada que ontem marcaste como tua, hoje não passa de uma leve poeira que o tempo irá apagar, a brisa que te fez sorrir e sonhar, jamais será vivida por alguém, sem saberes, as voltas do mundo apaga aquilo que foste ou aquilo que tinhas como teu.
 Na noite escura dás voltas na cama, vives no teu mundo inconsciente e tão real quanto tu, recordas o teu passado, sonhas o teu futuro, amas no silêncio de uma cama vazia, mas lá fora, as voltas do mundo continuam a mudar quem és ou serás, continuam a marcar-te para o mundo que irás encontrar na manhã.
 Por mais voltas que dês, tentando fugir das voltas do mundo, ele irá apanhar-te na sua curva, fará de ti continuação de uma volta ainda mais amarga que aquela que possas ter imaginado. A seu belo prazer, ele vai marcar o ritmo da tua existência, vai criando seres já existentes, mudando pedras do tamanho do teu pequeno mundo. Não adianta tentar acompanhar as voltas do mundo, ele estará um passo à tua frente, e quando deres conta já és a pegada transformada em leve poeira.
 O mundo dá voltas e voltas, e quando pensas que será a sua ultima volta, com passos de criança matreira, dá mais uma volta, apenas para te lembrar que não o podes controlar nas suas voltas loucas de mundo incerto.
 As voltas do mundo...

Café pra dois

 O teu café arrefeceu, tal como a tua companhia ausente.
 Não me lembro de ter chegado, talvez estivesse uma tarde agradável de Verão, ou uma tarde soalheira de Outono, não me lembro da chuva de Inverno, mas pelo sorriso e carinho que me acompanharam, talvez estivéssemos na Primavera, não me lembro, simplesmente, a esta distância parece que foi ontem que aqui cheguei.
 A esplanada é perfeita, tem uma vista sobre o mar, uma sombra agradável e, se fecharmos os olhos, somos só nós, o oceano e aquela suave brisa com cheirinho a praia. O chão em madeira tem uma ou outra tábua levantada, tem cuidado ao caminhar, e eu sei que chegarás com esse teu sorriso a olhar para mim sem veres onde pões os pés.
 Já olhei o relógio vezes sem conta, a tarde esfuma-se por entre os raios de sol e nem sinal de ti, espero que esteja tudo bem contigo. Não sabia muito bem o que pedir, por isso pedi café para os dois, sei que gostas do café daqui, disseste-me tu no dia em que te convidei. Esse dia, esse terrível dia, como eu tremia para ganhar coragem em te convidar para um café. Neste momento, posso dizer que foi dos dias mais estranhos que já tive, uma luta interior entre a vontade de te convidar e o medo de recusares, mas com muita sorte minha ouvi um sim sorridente vindo de ti.
 Hoje, espero por ti, aqui nesta mesa de esplanada, deserta de ti e de mim, pois trazes contigo a pessoa que sou, que apenas a reencontrarei no momento em que chegares.
 O teu café arrefeceu minha querida, quando chegares peço outro.