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sábado, março 24

Entre o riso e a tristeza

 Apenas os teus traços, rosto triste, olhar distante, acomodada a uma vida que foi tua, a uma vida que não te poderia ter pertencido.
 O que o teu olhar esconde, como pequenos diamantes jamais revelados ao mundo, o teu sorriso escondido partilha a beleza da pessoa que és.
 Os caminhos percorridos, as paisagens gastas e repetidas, a muralha que ao teu redor se ergue criando um mundo só teu, não deixa indiferente quem te olha e te revela, em palavras soltas e banais, sem nunca conhecer os jardins que guardas dentro da tua fortaleza. De pilares rígidos e bem profundos, mostras-te como um rochedo onde nem o mais alto temporal causará dano, onde todos os barcos ancoram sem se importar das amarras que em ti colocam, onde uma lágrima escava, uma vez mais, um traço vincado na tua alma.
 O sol reflecte nos lábios finos e rosados, clareando a tua vida e de quem te dás a conhecer, deixando a descoberto a menina que és, doce, meiga, ouvinte e locutora, personagem de um livro inacabado. Nos cabelos transportas as ondas do mar, solto na brisa de verão que contorna a ilha do teu rosto, onde cada gesto, cada sinal, são pequenos tesouros por descobrir.
 Tento descobrir quem és sem tocar a tua muralha, descubro contigo os teus jardins, por entre o riso e a tristeza.