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quarta-feira, janeiro 25

Sinto falta do teu respirar

 Esta cama, demasiado grande para a minha vida, demasiado pequena para a minha solidão. Se ao menos conseguisse adormecer sem me sentir sufocar nas minhas saudades.
 Mais uma volta nos lençóis, teimosamente, frios e encontro o cantinho onde o teu corpo roçava o meu, onde a tua pele quente envolvia a minha e fazia esquecer o frio da cama. A tua almofada continua intacta, com o cheiro do teu cabelo, aroma de amêndoas que jamais esquecerei. O candeeiro permanece acesso, tantas quantas as noites que viajei no teu corpo, em sonhos ou em viagens que nenhum escritor conseguirá descrever.
 Há uma noite que me percorre o pensamento, noites e noites sem fim ela me invade a mente, noites e noites de solidão sem ti. A noite em que adormeceste no meu peito. Com o passar do tempo tornou-se em algo quase banal, mas o que nunca te disse senti-o, momentos de beleza por explicar, por decifrar, o teu respirar junto a mim.
 Como era suave o teu respirar, terno e calmo, por entre suspiros e sorrisos o teu rosto ia-se moldando a felicidade daquele momento. A tua cabeça deitado no meu peito, no meu ombro ou, simplesmente, no meu braço, enquanto eu te afagava o cabelo ou te beijava a cabeça, tu adormecias, como uma criança pequena. As vezes que te vi adormecer e fui feliz nesses instantes, perdi-lhes a conta, mas jamais esquecerei esse sentimento.
 Hoje, sinto a falta do teu respirar junto a mim, sinto falta da tua pele na minha, desejo encontrar o teu aroma a amêndoas na almofada vazia ao meu lado. Sinto falta de ti.

quinta-feira, janeiro 5

Medo das palavras

 Um brilho no olhar, trazido pela nostalgia, ao recordar pensamentos, sonhos e desejos meus, por entre palavras que partilhavam o meu mundo.
 Uma caneta pousada sobre o caderno, uma chávena de café quente, a musica que me acompanha nos momentos sombrios e distantes de mim, e o medo, o medo das palavras. Sem me magoar, desviando a caricia, invadindo o silêncio com o seu murmurar oco e transparente, as palavras assustam-me, perfuram-me a alma, deixando-me num desassossego. Sinto-me exposto a leves e breves palavras, banais e profundas palavras que arrancam do meu peito a vontade de as ter, de as escrever, partilhar contigo aquilo que sinto.
 Pudesse eu, inventar outro modo de te fazer chegar o que as palavras te levam, de te mostrar o que elas espelham à luz da tua alma, fosse eu capaz de deixar em ti a marca que nas palavras tatuo.
 O mundo conhecedor deixou de ter tempo para palavras, de querer ver ou sentir o puder que elas acarretam, limitou-se aos actos físicos sem dono, a olhares vagos repletos de vazio e solidão. Um não acreditar que transporta o sonho para o nada existente, onde se encontra o bem-estar necessário, e fugaz, do momento.
 Levo comigo este tormento, esta indecisão de saber o que escrever, de tentar encontrar as palavras certas para ti, de querer rever-te em cada palavra pronunciada pela tua boca. Outrora, pensei que conhecesses as minhas palavras, que as partilhasses através da mesma melodia que nos embalava, vejo agora que apenas eu soube cuidar de nós.
 Se chegar a ti, apenas posso querer que sintas estas simples palavras, "Gosto de ti, gosto só de ti."