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quinta-feira, janeiro 5

Medo das palavras

 Um brilho no olhar, trazido pela nostalgia, ao recordar pensamentos, sonhos e desejos meus, por entre palavras que partilhavam o meu mundo.
 Uma caneta pousada sobre o caderno, uma chávena de café quente, a musica que me acompanha nos momentos sombrios e distantes de mim, e o medo, o medo das palavras. Sem me magoar, desviando a caricia, invadindo o silêncio com o seu murmurar oco e transparente, as palavras assustam-me, perfuram-me a alma, deixando-me num desassossego. Sinto-me exposto a leves e breves palavras, banais e profundas palavras que arrancam do meu peito a vontade de as ter, de as escrever, partilhar contigo aquilo que sinto.
 Pudesse eu, inventar outro modo de te fazer chegar o que as palavras te levam, de te mostrar o que elas espelham à luz da tua alma, fosse eu capaz de deixar em ti a marca que nas palavras tatuo.
 O mundo conhecedor deixou de ter tempo para palavras, de querer ver ou sentir o puder que elas acarretam, limitou-se aos actos físicos sem dono, a olhares vagos repletos de vazio e solidão. Um não acreditar que transporta o sonho para o nada existente, onde se encontra o bem-estar necessário, e fugaz, do momento.
 Levo comigo este tormento, esta indecisão de saber o que escrever, de tentar encontrar as palavras certas para ti, de querer rever-te em cada palavra pronunciada pela tua boca. Outrora, pensei que conhecesses as minhas palavras, que as partilhasses através da mesma melodia que nos embalava, vejo agora que apenas eu soube cuidar de nós.
 Se chegar a ti, apenas posso querer que sintas estas simples palavras, "Gosto de ti, gosto só de ti."

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