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terça-feira, janeiro 28

Perdendo o destino no caminho

 Não sei quantos km percorri até aqui, perdi a conta das pessoas que vi e vivi, das pedras do caminho esqueci a cor, bafejei a sorte que tantos outros tinham como azar, rodei no chão molhado ao som da chuva que me embalou num silêncio sufocante, troquei os passos a quem comigo tentou caminhar, enraizei-me no cheiro do teu perfume e fiz dele a minha bússola, perdi o teu olhar e hoje sigo com a certeza de que me estou a perder no meu caminho.
 Sem rumo a seguir, entrei numa viagem onde a nada me poderia levar, sem expectativas, sem certezas, fiz as malas e meti-me a caminho. Pelo simples prazer de caminhar, de observar, sim, penso ter sido esse o verdadeiro motivo e razão do meu partir, caminhar para longe sem esperar encontrar-me em lado algum. Cansar o corpo e a mente, conseguir deitar a cabeça sem ter algo em que pensar, apenas um dia que merecesse o descanso. Ser livre de mim e de todos, ver sem ser observado, embriagar-me nas pessoas que comigo se cruzariam.
 Não foi propositado ter pisado o mesmo chão que tu percorreras momentos antes, não foi planeado ver o teu olhar e o teu sorriso, talvez o teu perfume me tenha levado a seguir os teus passos. Como quem procura o que não quer ser encontrado, assim eu te segui, sem perguntar o porquê, sem questionar até quando, somente, deixei-me levar pela suavidade e beleza do teu ser, desejando percorrer os teus passos todos os dias, beber do teu olhar o mundo que neles transbordava. Aos poucos, fui perdendo a noção de onde estava, o que ali fazia, para onde seguia.
 Perdi o teu caminhar, sem perceber onde me deixaste ficar, segui uma viagem que não desejei, ouvi o som de um sorriso que me abandonou e me guiou, encontrei os sentimentos que tão bem tinha guardado na casa de onde parti. Hoje sigo com o peso de um coração que não quero ter, sem bússola ou destino, sem conhecer o chão que me leva. Na noite escura, o corpo cansado e a alma desgasta apenas conseguem encontrar conforto na ilusão que em ti criei.