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quarta-feira, maio 18

Viagem

 Por vezes, sinto uma enorme vontade de escrever, desabafar, dramatizar, ser eu em estado bruto e por lapidar. Deixar caneta ficar solta nos dedos e permitir que o coração e a alma partilhem as suas divergências numa só folha.
 A tinta da caneta vai ficando marcada folha fora, traço após traço, um ponto e uma virgula, mais um rabisco e um circulo em volta do vazio. No canto superior direito mal se distingue a cor branca do papel, no seu lugar um enorme aglomerado de riscos alinhados, estrategicamente, apoderam-se  de um pedaço de nada, como se isso lhes servisse de motivo de existirem.
 Aos poucos vou dando asas a alma e recatando um pouco mais o coração, talvez a folha em branco se consiga preencher um pouco mais. O braço acaba de adormecer, não o que suporta a mão e a caneta, mas sim o que me vai suportando a cabeça prestes a cair sobre o tampo da secretária. Quanto a mão que vai arrastando a sua caneta, bem, essa preenche a folha em branco com uma espécie de desenho, ou talvez uma pintura.
 Acho que perdi a vontade de escrever, o que quer que seja. As palavras não colaboram, a folha está cheia de rabiscos, algumas palavras soltas que se foram alinhando por entre pensamentos.
 Quando as coisas não correm como quero, tento descobrir a razão de isso acontecer e hoje cheguei a conclusão de que pensar em ti com uma caneta na mão e uma folha em branco não me leva ás palavras, leva-me numa viagem bem distante disto!