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segunda-feira, setembro 6

O vazio da noite

 

A noite trouxe a brisa de outros tempos, os odores e sabores que se haviam perdido com o passar dos dias. 

 A pele fria, de um verão que deixa saudades a cada amanhecer nublado e húmido, fará rotina em dias cada vez mais cinzentos e vazios de noites longas de solidão. Porém, esta noite, será esta brisa, que leva a mente para longe, que deixa o corpo dormente desejoso de mais vazio, a preencher a lembrança de outrora. Os risos, os gestos, os toques e a azáfama desenfreada de não ter onde ir.

 Tão sublime quanto o silêncio, os odores da noite invadem a alma transportando-a para onde o tempo não tem tempo para existir, onde a memoria gela o momento efêmero do que fui. Sem correrias, sem pressas ou vagares, apenas o tempo no seu manto gélido lembrando que outrora fui tudo o que desejei sem a necessidade de ser.

 O frenesim de sabores, doces e amargos, que degusto com a vontade de quem devora os momentos alheios a tudo e perdidos no passado, como que revividos sem consentimento da saudade. 

 Esta noite, esta brisa, esta vontade de vazio que devora a saudade na procura de tudo.