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domingo, outubro 7

A sós com a solidão

 Hoje vi pessoas simpáticas a falar com um corpo deserto, de sorriso obrigatório de quem tem o dever, com um olhar que percorria oceanos. Alguém me falou, mas não me viu.
 Estranho este meu mundo de vazios por onde ando, tentando encontrar conforto e carinhos nas pessoas que amo mas que não tenho, esvaziando o ser vezes sem conta ao remexer a alma na procura de algo melhor para oferecer. Em certos momentos penso se seria melhor esperar receber algo sem oferecer nada, mas vejo-me diante da parede branca que nada me diz, encontro o vazio da existência que não desejo, e nesses momentos luto, tento chegar ao outro lado da parede branca, mas por mais que tente sinto os dedos já sem forças de tanto me agarrar ao meu sonho, a realidade que existe apenas num coração estúpido de um amante.
 Ontem, durante uma insónia a que a minha mente já me habituou, dei comigo a proferir estas palavras,"amei no silencio da noite, na esperança que o amanhecer viesse para nos acordar, mas as trevas apoderaram-se do meu sonho", talvez seja assim, talvez haja apenas um sonho, talvez haja um acordar solitário, talvez a vida nos ensine que há momentos certos para algo ter valor, talvez eu só descubra o valor do sonho quando acordar.
 O sol esta manhã pareceu-me estranho e distante, ainda mais distante que o costume, mas todos nós temos os nossos dias de brilhar e de ficar apenas a ver, e acredito que hoje o sol apenas me observou, pairou sobre mim na esperança de uma fraqueza minha, mas por muito que tente não irá conseguir ver. O nó na garganta persegui-me por todos os lados, como uma onda que esbarra sempre na areia da praia desfazendo-se em espuma, sempre presente e forte,dando-me vontade  de seguir para o alto mar e deixar-me estar lá, onde ninguém me via, onde ninguém me ouvia, mas por mais que eu pensasse estar sozinho, sentia a tua presença, a única presença, minha querida solidão.
 Nunca fomos de grandes conversas, sempre respeitei o teu cantinho, ao contrário de ti que me empurras, me machucas e fazes de tudo para me chamar a atenção, mas por cordialidade e respeito dirijo-me a ti por intermédio dos meus pensamentos que tão bem conheces, penso até que conheces melhor os meus pensamentos que a ti mesmo. Longos são os momentos em que partilho contigo os meus pensamentos, sei que por isso deveria ser culpado, por te mostrar algo que tão mal me faz e que tão bem te sabe, mas quando todas as portas se fecham, apenas me restas tu querida solidão.
 Um dia, quem sabe, talvez partilhe contigo algo mais que os pensamentos, de certo irias apreciar a minha pacata vida.

1 comentário:

  1. Um texto muito bonito, porém, infelizmente, muito triste.
    A solidão por vezes torna-se a nossa única amiga e simultaneamente nossa inimiga.
    Podemos ter amigos, podemos tentar desabafar com eles sobre como nos sentimos, que estamos na escuridão, na companhia da solidão, no entanto ninguém é capaz de compreender a nossa situação.

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