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quarta-feira, outubro 22

No fim de nós

 Longe vai o dia em que corríamos, desesperadamente, para longe daqui, onde pudéssemos ser nós, onde nada seria mais do que eu e tu, estivéssemos a sós que o tempo se encarregaria por si só de desaparecer para não mais nos parar.
 O luar está calmo, o céu escuro e carregado de saudade parece abraçar as almas que o tempo trás de amores perdidos e desencontrados. O corpo, que no seu colo carrega o corpo de alguém, sente o calor de uns braços trémulos fugindo peito abaixo. Um corpo, o meu, deixando o teu desistir de mim, abandonando o nós que aqui viveu.
 Frio que incendeia o corpo adormecido, em meus braços vejo o pedaço de ti que o tempo não levou. Rosto pálido, perfume sem odor e um sorriso que se perdeu num adeus que não se pronunciou. Impávido olho o teu cabelo, perfeitamente, desalinhado, uma ultima caricia, um ultimo toque nos teus lábios enrugados e frios. Secreto fica o desejo de te voltar a ter, de te dar vida em mim.
 Sem ti, abandono os corpos inexistentes naquele local escuro onde o vento não sopra, onde o luar ilumina os teus olhos sem brilho. Naquele mesmo local, enterro o que resta de nós, todas as memórias, todas as imagens que o tempo segurou em mim, desfaço os sonhos e os desejos, carrego a mente de pedras que pisei e arrastei, levo a metade que nunca viveu em nós.

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