A noite vai alta, o frio percorre o corpo como um estranho que destapa a pele das roupas que outrora foram o seu refugio, deixando a nu a alma que nunca se conheceu. A Lua brilha na calçada molhada, renasce aos pés do ser que a pisam, esconde-se e perde-se na sombra do corpo vazio.
Tarde chega o tempo em que a pessoa conhece o ser, tornando vazia a existência ausente de uma alma por desvendar. Na realidade do pensamento mora a certeza do não ser, desenlaça-se a duvida constante, e ineficaz, de viver o sonho, tornando a realidade do pensamento em água que verte de uma fonte algures, tantas vezes perdida e achada.
No seu leve bater, as ondas do mar formam personagens, criam vidas ocultas e distantes, deixam barcos sem rumo ou maré. Por entre espuma e algas, a maresia, a suave maresia, envolve o luar de uma noite perdida, embalando-a no seu leito de desassossego. Na sua água límpida, que outrora jorrou de uma fonte desconhecida, reflecte-se a imagem perdida de um ser que se conhece, de uma personagem que vagueia, sem nunca mostrar a alma que a habita, reflexos de um Ser.
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