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domingo, maio 29

Noite fugaz

 Um bocejar de suspiro, pedaço de mulher, solta e fria, presa no desejo de prazer.
 Roupas rasgadas, no chão de um qualquer quarto de hotel, a cama amarrotada por dois corpos desconhecidos, cúmplices de algo que o momento desconhece. Dois copos tombados sobre a mesa, garrafa vazia de sentimentos escondidos, uma rosa de conquista, esquecida sobre o chão.
 Corpos nus, tantas vezes entregues ao prazer, de uma noite, de um momento, repetido com a banalidade dos seres. O suor que ilumina a pele cansada, que desperta com o seu odor a chama e o desejo de mais prazer. Gemidos que ensurdecem a visão e alimentam a alma, antídoto de uma monotonia de movimentos. O saciar do corpo, consumido no breve trago da loucura.
 Quarto de desejo, perverso, isento de culpas jamais partilhadas por aqueles dois corpos. A beleza imaculada, das suas paredes brancas, dos seus quadros enormes, outrora apreciados em momentos de prazer, são agora despidos pelo calor de uma noite fugaz.
 Lá fora, a cidade dorme, a neblina cobre os passeios desertos, iluminados pela trémula luz de um candeeiro solitário. Naquele qualquer quarto de hotel, dois corpos consomem-se, não esperando partilhar uma outra qualquer noite.

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