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terça-feira, julho 5

Oceano de lágrimas

 Impossível de controlar, de te prender no teu leito normal, rolando sobre a face fria e adormecida do mundo.
 No escuro da noite, tu apareces, lenta e solta, como o vento que trás a neblina, alheia ao teu destino, ao teu fim. Queres apenas molhar o corpo, marcar a alma de uma tristeza sombria, relembrar que, tantas outras vezes, foste a minha única companhia, o meu porto sem abrigo, a minha maré revolta de mim mesmo.
 E eu, deixo-te correr, sem me preocupar que te vejam, que te toquem, que manches uma vez mais o meu ser perdido. O teu caminho pelo meu rosto, conheço-o bem. A pele moldou-se a ti, criou o seu próprio regato por onde segues livremente, sem pedires autorização para invadires, sem te sentires estranha em mim.
 A fonte que encontras, colorindo-te de um castanho escuro e doce, de sentimentos vazios. Se ao menos fosses fiel ao teu nascer, à tua grandeza, poderias desbravar caminho por mundos que jamais conhecerás.
 Um dia tentei saborear-te, na esperança que algo de bom me trouxesses, talvez a memória dos lábios meus, talvez o perfume que me acompanhou, lado a lado, mas nada disso me deste. Amarga, salgada como o oceano, fria como o inverno onde morri, assim te encontrei, assim me perdi para ti.
 Não me importo de ti, não quero saber o mal que me podes provocar, pois sei que serás feliz no teu final, no teu oceano de lágrimas.

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