Não sei quanto tempo esperei por este momento, talvez muitos muitos dias, mas, finalmente, posso dizer que sou um homem feliz.
Durante este ultimo ano, passei os meus dias e ver a sua figura, a sonhar com ela, a sorrir para ela, mas sempre pensei que não fosse mais do que um miúdo que ela conhecia. Todos os momentos, que partilhava algo com ela, poderiam parecer-lhe banais, mas para mim sempre foram os verdadeiros momentos de felicidade que o meu dia me trazia.
Do que melhor me lembro dela é o seu cabelo, sempre despenteado, solto ao vento, com aquele travessão cor-de-rosa mesmo ao lado do risco torto e desorganizado. Não sei porquê, mas fazia-me lembrar uma personagem de desenhos animados, daquelas irrequietas e sempre na brincadeira.
Ela chegava perto de mim e eu limitava-me a olhar pro chão, sorria esperando que não me visse corado e desejava que me segurasse pelo braço e me levasse nas suas brincadeiras, mas nunca aconteceu, nunca até hoje.
Estava mais uma bela tarde de Verão, como tantas outras, o parque estava cheio e todos tinham com quem brincar, eu limitava-me a subir as pequenas escadas de madeira e descer pelo escorrega, repetindo isto vezes sem conta, até o cansaço me vencer ou a desilusão de estar sozinho, me acompanhar até a minha mãe. Numa dessas minhas esperas, para descer no escorrega verde que me levaria até a areia, ela aproximou-se de mim, fiquei sem saber que fazer, tantas vezes me vira ali e não me tinha ligado, porquê naquele momento se aproximara ao ponto de ficar encostada a mim? Mais uma vez, olhei para o chão, corei e sorri para dentro de mim. Como eu gostava que ela me dissesse um simples olá.
Senti os seus dedos pequenos apertarem-me o braço, puxando-me para ela. O meu coração parou, como um interruptor que desliga a luz, sem saber o que fazer, o que dizer. Os meus olhos levantaram-se e olhei para ela, caramba, como era mesmo linda, aquela rapariga fazia-me levitar sem sair do chão. Sem trocar uma única palavra, fomos para longe da confusão, para um canto do parque, onde nos sentamos na areia e brincamos, disfarçadamente, com a areia. As minhas mãos mexiam na areia, tentavam criar um castelo ou algo do género, mas o meu pensamento e o meu coração jamais sabiam o que estavam a fazer, sentia-me apenas confuso e feliz.
Trocamos alguns sorrisos e poucas palavras, pois a minha timidez não me deixou ser como eu queria ser, e como o que é bom acaba depressa, o fim da tarde chegou e eu já ouvia a minha mãe chamar-me. Já de pé, disse-lhe por entre um murmúrio que tinha de me ir embora. Lembro-me apenas de ela se agarrar ao meu pescoço e me dar um beijo na boca. Virei-me e corri o mais que pude para junto da minha mãe, não via por onde ia, pois tinha a cabeça a andar à roda com tanta felicidade, agarrei-me a ela e senti uma sensação de borboletas a esvoaçar no meu estômago.
Já é noite e não consigo dormir, continuo sem saber o que senti naquele momento, mas mesmo, e com apenas cinco anos, posso jurar ao mundo que a amo, e que daqui por vinte anos a irei continuar a amar.
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