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terça-feira, agosto 23

Amor pequenino

 Não sei quanto tempo esperei por este momento, talvez muitos muitos dias, mas, finalmente, posso dizer que sou um homem feliz.
 Durante este ultimo ano, passei os meus dias e ver a sua figura, a sonhar com ela, a sorrir para ela, mas sempre pensei que não fosse mais do que um miúdo que ela conhecia. Todos os momentos, que partilhava algo com ela, poderiam parecer-lhe banais, mas para mim sempre foram os verdadeiros momentos de felicidade que o meu dia me trazia.
 Do que melhor me lembro dela é o seu cabelo, sempre despenteado, solto ao vento, com aquele travessão cor-de-rosa mesmo ao lado do risco torto e desorganizado. Não sei porquê, mas fazia-me lembrar uma personagem de desenhos animados, daquelas irrequietas e sempre na brincadeira.
 Ela chegava perto de mim e eu limitava-me a olhar pro chão, sorria esperando que não me visse corado e desejava que me segurasse pelo braço e me levasse nas suas brincadeiras, mas nunca aconteceu, nunca até hoje.
 Estava mais uma bela tarde de Verão, como tantas outras, o parque estava cheio e todos tinham com quem brincar, eu limitava-me a subir as pequenas escadas de madeira e descer pelo escorrega, repetindo isto vezes sem conta, até o cansaço me vencer ou a desilusão de estar sozinho, me acompanhar até a minha mãe. Numa dessas minhas esperas, para descer no escorrega verde que me levaria até a areia, ela aproximou-se de mim, fiquei sem saber que fazer, tantas vezes me vira ali e não me tinha ligado, porquê naquele momento se aproximara ao ponto de ficar encostada a mim? Mais uma vez, olhei para o chão, corei e sorri para dentro de mim. Como eu gostava que ela me dissesse um simples olá.
 Senti os seus dedos pequenos apertarem-me o braço, puxando-me para ela. O meu coração parou, como um interruptor que desliga a luz, sem saber o que fazer, o que dizer. Os meus olhos levantaram-se e olhei para ela, caramba, como era mesmo linda, aquela rapariga fazia-me levitar sem sair do chão. Sem trocar uma única palavra, fomos para longe da confusão, para um canto do parque, onde nos sentamos na areia e brincamos, disfarçadamente, com a areia. As minhas mãos mexiam na areia, tentavam criar um castelo ou algo do género, mas o meu pensamento e o meu coração jamais sabiam o que estavam a fazer, sentia-me apenas confuso e feliz.
 Trocamos alguns sorrisos e poucas palavras, pois a minha timidez não me deixou ser como eu queria ser, e como o que é bom acaba depressa, o fim da tarde chegou e eu já ouvia a minha mãe chamar-me. Já de pé, disse-lhe por entre um murmúrio que tinha de me ir embora. Lembro-me apenas de ela se agarrar ao meu pescoço e me dar um beijo na boca. Virei-me e corri o mais que pude para junto da minha mãe, não via por onde ia, pois tinha a cabeça a andar à roda com tanta felicidade, agarrei-me a ela e senti uma sensação de borboletas a esvoaçar no meu estômago.
 Já é noite e não consigo dormir, continuo sem saber o que senti naquele momento, mas mesmo, e com apenas cinco anos, posso jurar ao mundo que a amo, e que daqui por vinte anos a irei continuar a amar.

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