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segunda-feira, agosto 15

Banco de jardim

 A inocência dos nossos olhares trocados neste mesmo banco de jardim, que fazíamos questão de visitar sempre que a tempestade se abatia sobre o nosso mundo, ainda te lembras minha querida?
 Parece que foi ontem, que estive aqui contigo, de mão dada a olhar as crianças brincarem na relva, a ver os pássaros caminharem junto ao lago sem medo que o mundo os assustassem. Mas hoje, sento-me aqui, sozinho e sem ti ao meu lado, já sem ti ao meu lado. O tempo, esse malvado de cabelos brancos, chegou mais rápido para ti do que para mim, tornando assim a injustiça do mundo ainda maior do que quando tínhamos vinte anos e desejávamos viver todos os sonhos numa só noite. Com o passar das noites demos conta de que não importa viver todos os sonhos muito rápido, mas que os consigamos viver lentamente com a pessoa que se ama, e nós amamos tanto o ser um do outro.
 Se fechar os olhos, ainda sinto a tua mão trémula na minha, a tua pele macia e gasta pelo tempo apertar os meus dedos cansados. As lágrimas correm-me pela cara, por entre as rugas que tanto gostavas de ver em mim, fruto de uma vida partilhada a dois, marcadas pelos sorrisos, pelas tristezas.
Não preciso de procurar o teu perfume noutra pessoa, trago-o em mim como no primeiro dia em que te conheci, acho que nunca mudou, por mais colónias que tenhas usado em toda a tua vida ficará para sempre o cheiro das rosas que tanto gostavas. Por entre um sorriso recordo, agora, a rosa que trazias naquela tarde de domingo em que te sentaste ao meu lado pela primeira vez. Naquele momento senti que um anjo teria descido dos céus para se sentar ao meu lado, fiquei sem jeito e sem saber o que te dizer, pois todas as palavras trocadas nas nossas longas cartas eram poucas para te mostrar o quanto estava feliz por te ter ali, mas ao mesmo tempo não queria parecer um puto desejoso de te pegar na mão e te levar a passear pelo lago.
 Tudo não passa de recordações hoje, tu não estás aqui para relembrar cada momento nosso, cada discussão sem sentido que tivemos. Dou comigo a lamentar todo o tempo que perdemos com as banalidades da vida, sem aproveitarmos o nosso amor, mas sei que mesmo assim fomos felizes, fomos a única metade que tivemos e desejamos, fomos a única companhia e cumplicidade que partilhamos.
 Sem o teu braço para me amparar e segurar, para me guiar até casa, levanto-me com a ajuda desta bengala trémula e desajeitada que o tempo um dia irá tirar de mim. Percorro o longo caminho para onde não desejo ir, onde sei que não te irei encontrar, onde cada recanto me fará recordar de ti, onde o sonho e o desejo me fazem querer ir para junto de ti.
 Hoje, teria dito muito mais do que aquilo que te disse, teria-te beijado muito mais do que o que beijei. Hoje, não te teria deixado partir sem mim meu amor.

1 comentário:

  1. Sempre podes deixar aqui tudo o que ficou por dizer ou seguir e viver ainda com mais vontade de viver sabendo que um dia tiveste isso tudo :) porque a vida é passageira, tão passageira. quanto mais experiências boas tivermos melhor. quem sabe o que vem a seguir não será um momento que dure mais tempo?
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