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sexta-feira, março 4

Recordações pequeninas 2

 Há situações na vida de uma pessoa que são dignas de recordar toda a vida, contar e voltar a contar, vezes sem conta, e sempre com um sorriso nos lábios, contar, até, aos nossos descendentes, para que eles se possam orgulhar de nós... não é o caso, de todo!
 Não passava de uma tarde de verão, bastante quente, e as brincadeiras não poderiam ser ao ar livre. Por isso, decidimos, eu a minha irmã e o meu primo, brincar as casinhas, dentro de casa, claro está. As coisas até estavam a correr bem, sendo que "bem" não é a palavra certa, pois a minha irmã, como mais velha, ditava as ordens e leis a seu belo prazer.
 Meia-dúzia  de panelas e tachos de plástico, alguns talheres, um tanto ou quanto esquisitos, uns peluches e mais umas tralhas, que as pessoas de palmo e meio gostam de utilizar para brincar, mesmo que não sirvam para nada.
 Ao meio da tarde, já estava um bocadinho farto daquela brincadeira, e então, por erro grave, propus irmos brincar a outra coisa, não importava o quê, mas mais daquilo é que não. Foi, por assim dizer, o fim do mundo naquele pequeno cantinho de brincadeira. A minha irmã chateada, o meu primo fulo comigo, metem tudo numa saca e lá vão eles de malas aviadas para casa do meu primo continuar a brincadeira.
 Por magia, sim, acredito mesmo que foi magia, apareceu um pedaço de telha, perto da porta de casa dos meus pais, que logo serviu de inspiração àqueles perversos de corpo pequenino. Seria o telefone ideal que faltava na casinha deles. Sem olharem, a possíveis causas devastadoras, pegam naquela arma mortífera e colocam dentro da saca, com os outros brinquedos todos.
 Eu, como era típico em mim, fui atrás deles a choramingar, a pedir para me deixarem brincar com eles. Nesse momento já nem me importava de brincar as casinhas, afinal havia um telefone, e nunca gostei de ficar sozinho. Depois de cinco minutos, de choro, baba e ranho, a minha querida irmã lá me fez a vontade e disse as palavras mágicas: "Queres brincar? ok..." os meus olhos sorriam, a minha cara iluminara-se, mais que o próprio Sol. "Brinca sozinho!" foi a ultima coisa que me lembro de ouvir da boca dela, depois disso, vejo apenas o saco dos brinquedos a voar na minha direcção...
 Por incrível que pareça, no meio de tantos cacos de plástico, de tantos peluches... tinha de ser o telefone de telha a bater-me na cabeça... Ainda hoje, tenho a marca dessa tarde na memória, e na cabeça...
 Obrigado meus anjos.

1 comentário:

  1. indescritivel...tenho mesmo de me rir,tu escreves as coisas duma forma que parecem um filme de terror,nem era nada de mais,foi apenas uma telha,imagina se fosse um tijolo...era um estrago bem maior e nao dizem que há coisas que nos marcam para toda a vida,ora eu so estava a fazer por isso,para nunca te esqueceres da tua infancia.

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