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domingo, janeiro 2

Páginas de um livro inacabado

 Começamos a ler um livro e quando vamos a meio conhecemos a sua historia até então, ficando o final por descobrir... tal como nós... Sabemos quem fomos e quem somos, mas jamais saberemos como seremos e para onde iremos... não sabemos o seguimento da nossa historia... por muito que tentamos adivinhar ou por mais planos que façamos... nunca teremos a certeza de como vai acabar o livro da nossa vida.
 As vezes escolhemos os livros pela capa... mas tal como nas pessoas, o exterior pode ser muito bonito, perfeito até, mas quando chegamos a meio da leitura, muitas vezes desejamos nunca ter aberto esse livro... outras vezes porem, os livros com uma capa banal têm a melhor e mais perfeita das historia que poderíamos ter desejado... Parto do principio que cada um é como cada qual e como gostos não se discutem, a historia mais entediante para mim pode ser a historia perfeita para ti.
 Quantas vezes não aconteceu já começar a ler um livro, parecer interessante no inicio e depois... o desinteresse, a perda de paciência para algo tão... sem sentido... Acabamos por o deixar pousado, esquecido... talvez um dia ganhemos coragem para voltar a pegar nele, fazer um esforço por o ler, para que não fiquemos na duvida do que acontecerá no final.
Todos nós temos a nossa historia, não acredito que a possamos delinear a longo prazo... a nossa historia é escrita diariamente em gestos e atitudes que tomamos.
 A certeza dos livros, bons ou menos bons, é que no final de cada livro há sempre uma página em branco... um dia seremos nós a página branca de um livro... A diferença entre os livros é que nos menos bons queremos que chegue rapidamente a página em branco... nos livros bons... ficamos com pena que tenha acabado tão rápido, mas ficará sempre na nossa memoria como um capitulo bom que vivemos.
O meu livro preferido é "navegador solitário", pela historia em si, nada de mais... tem uma capa banal... uma escrita viciante... não é perfeito, mas...
 E o teu, qual é o teu livro?

1 comentário:

  1. Prefiro dizer, por agora dois autores:
    Herberto Hélder

    Ary dos Santos (A Liturgia do Sangue

    Caminharemos de olhos deslumbrados

    E braços estendidos

    E nos lábios incertos levaremos

    o gosto a sol e a sangue dos sentidos.

    Onde estivermos, há-de estar o vento

    Cortado de perfumes e gemidos.

    Onde vivermos, há-de ser o templo

    Dos nossos jovens dentes devorando

    Os frutos proibidos.

    No ritual do verão descobriremos

    O segredo dos deuses interditos

    E marcados na testa exaltaremos

    Estátuas de heróis castrados e malditos.

    (...)

    Ó deus do sangue! deus de misericórdia!

    Ó deus das virgens loucas

    Dos amantes com cio,

    Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,

    Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

    Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,

    Fustiga-nos os membros como um látego doido,

    Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,

    Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

    Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,

    Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,

    Atapeta de flores a estrada que seguimos

    E carrega de aromas a brisa que nos toca.

    Nus e esnsaguentados dançaremos a glória

    Dos nossos esponsais eternos com o estio

    e coroados de apupos teremos a vitória

    De nos rirmos do mundo num leito vazio.)

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