Começamos a ler um livro e quando vamos a meio conhecemos a sua historia até então, ficando o final por descobrir... tal como nós... Sabemos quem fomos e quem somos, mas jamais saberemos como seremos e para onde iremos... não sabemos o seguimento da nossa historia... por muito que tentamos adivinhar ou por mais planos que façamos... nunca teremos a certeza de como vai acabar o livro da nossa vida.
As vezes escolhemos os livros pela capa... mas tal como nas pessoas, o exterior pode ser muito bonito, perfeito até, mas quando chegamos a meio da leitura, muitas vezes desejamos nunca ter aberto esse livro... outras vezes porem, os livros com uma capa banal têm a melhor e mais perfeita das historia que poderíamos ter desejado... Parto do principio que cada um é como cada qual e como gostos não se discutem, a historia mais entediante para mim pode ser a historia perfeita para ti.
Quantas vezes não aconteceu já começar a ler um livro, parecer interessante no inicio e depois... o desinteresse, a perda de paciência para algo tão... sem sentido... Acabamos por o deixar pousado, esquecido... talvez um dia ganhemos coragem para voltar a pegar nele, fazer um esforço por o ler, para que não fiquemos na duvida do que acontecerá no final.
Todos nós temos a nossa historia, não acredito que a possamos delinear a longo prazo... a nossa historia é escrita diariamente em gestos e atitudes que tomamos.
A certeza dos livros, bons ou menos bons, é que no final de cada livro há sempre uma página em branco... um dia seremos nós a página branca de um livro... A diferença entre os livros é que nos menos bons queremos que chegue rapidamente a página em branco... nos livros bons... ficamos com pena que tenha acabado tão rápido, mas ficará sempre na nossa memoria como um capitulo bom que vivemos.
O meu livro preferido é "navegador solitário", pela historia em si, nada de mais... tem uma capa banal... uma escrita viciante... não é perfeito, mas...
E o teu, qual é o teu livro?
Prefiro dizer, por agora dois autores:
ResponderEliminarHerberto Hélder
Ary dos Santos (A Liturgia do Sangue
Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
o gosto a sol e a sangue dos sentidos.
Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.
No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.
(...)
Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!
Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.
Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.
Nus e esnsaguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
e coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.)